As exportações de carne bovina para a China dobraram em março ante igual período de 2019, enquanto outros mercados relevantes reduziram as compras, já afetados pelo recuo na demanda em meio a medidas de isolamento contra o coronavírus, segundo a indústria e especialistas do setor.
“Desde agosto de 2019, mais de 30% das vendas de carne bovina do Brasil vão para a China. Agora, estamos ainda mais dependentes dos chineses porque na União Europeia, por exemplo, os lockdowns diminuíram a necessidade de carne importada que iria para o food service”, disse o consultor em Gerenciamento de Risco especializado em pecuária da INTL FCStone, Caio Toledo.
Os embarques de carne bovina do Brasil, incluindo o produto in natura e processado, totalizaram 147,08 mil toneladas em março, alta de 2,72% em relação a março de 2019, segundo dados da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec).
Somente a China respondeu por cerca de 35% das compras, com 51,86 mil toneladas importadas em março, um salto de 108% ante as 24,9 mil toneladas adquiridas um ano antes, apoiado pelo aumento no número de plantas habilitadas, segundo a Abiec.
De acordo com o consultor da FCStone, o número de unidades frigoríficas do Brasil habilitadas para exportar ao mercado chinês passou de nove para 39 no período avaliado.
“Se a China não tivesse esta quantidade de plantas habilitadas, o Brasil já registraria queda nas exportações totais da proteína bovina devido ao desempenho negativo de outros mercados.”
A União Europeia, terceiro maior comprador de carne bovina brasileira atrás da China e Hong Kong, reduziu em 1% as importações em março, para 7,88 mil toneladas, segundo a Abiec, “e a tendência para os próximos meses é de recuos mais expressivos”, estimou Toledo.
O Chile, quarto maior importador da proteína brasileira, baixou em 6,77% as compras de março, na variação anual, para 7,46 mil toneladas.
Ainda de acordo com dados da Abiec, países como Irã e Emirados Árabes, que figuravam entre os dez principais compradores de carne bovina do Brasil em março de 2019, também reduziram as importações e não aparecem mais neste ranking.
O Egito, que diminuiu em 33% as importações de março, tende a reverter este cenário nos próximos meses, diferentemente de Chile e União Europeia, pois recentemente habilitou novos frigoríficos brasileiros para garantir a segurança alimentar durante a pandemia, segundo o analista.
“Nas estimativas para o curto prazo, estamos vendo a China acelerando o fechamento de negócios pois os frigoríficos aumentaram a procura por gado nos padrões que os chineses pedem. Mas, ao mesmo tempo, o Brasil está sujeito a uma série de riscos, como uma segunda onda do coronavírus naquele país”, alertou Toledo.
Ele lembrou que, em fevereiro, os chineses saíram parcialmente das negociações e muitas cargas ficaram paradas nos portos do país devido a restrições logísticas impostas pelo governo para controlar a Covid-19.
Essa situação impediu o retorno de contêineres ao Brasil e também impactou o mercado em março. Uma fonte da indústria a par do assunto que não quis se identificar afirmou que esta questão dos contêineres está sendo normalizada gradativamente.
“A China é um mercado promissor, mas arriscado. Temos que continuar acompanhando os desdobramentos da peste suína africana e da gripe aviária lá, mas sem esquecer que eles também podem perceber que estão dependentes do fornecimento do Brasil e passar a comprar mais de outros concorrentes.”